A dor musculoesquelética pode ser causada por patologias em músculos, tendões, ligamentos, ossos ou articulações. Os distúrbios osteomusculares são as principais causas de dor em todas as populações. Praticamente todos adultos experimentaram um ou mais episódios de dor associada a lesão ou uso excessivo. Embora as taxas de prevalência variem entre os estudos, ela pode ser extremamente comum, como na dor lombar, afetando 30 a 40% dos adultos na população geral¹.O ônus das doenças osteomusculares só aumentará com o crescente envelhecimento da população e um aumento do número de pessoas que não cuidam da dieta, estilo de vida, saúde e atividade física . A fisiopatologia da dor musculoesquelética não é completamente clara, mas inflamação, fibrose, degradação tecidual e distúrbios neurossensoriais têm sido implicados.
O envelhecimento é um processo inevitável ao corpo humano, associado a uma infinidade de alterações localizadas e sistêmicas. Todas essas alterações têm um mecanismo patogênico comum, a presença de um estado pró-inflamatório de baixo grau. Além disso, a inflamação sistêmica pode levar à destruição da cartilagem, sarcopenia, dor, incapacidade e uma qualidade de vida prejudicada²’³. O primeiro passo no diagnóstico destes pacientes é a história completa e exame físico detalhado, identificando possíveis patologias , comorbidades e fatores perpetuantes. Ferramentas de imagem, biomarcadores de diagnóstico e análise da marcha devem ser combinados para uma abordagem mais integrada no diagnóstico de distúrbios osteomusculares. É necessário garantir uma visão clara e quantificável dos sinais clínicos do paciente, mas também ser capaz de considerar o que está acontecendo em um nível molecular e tecidual. O tratamento é tipicamente multimodal e inclui : terapia física, programa de exercícios , medicações , acupuntura , terapia por ondas de choque, manejo de stress e intervenções comportamentais.
Pacientes que não respondem a tratamentos conservadores e têm uma qualidade de vida inaceitável, são candidatos a tratamentos intervencionistas . Os procedimentos invasivos pode ter objetivos diagnósticos ou terapêuticos .
Os bloqueios nervosos são os tipos mais comuns de procedimentos invasivos de diagnóstico. Sua lógica é simples: se uma certa estrutura anatômica é a fonte da dor, a anestesia do suprimento nervoso deve, temporariamente, aliviar a dor. Existem boas evidências para o bloqueio diagnóstico de facetas cervicais, torácicas e lombares, bem como da articulação sacroilíaca. Os procedimentos terapêuticos apresentam evidências variadas e, de acordo com as recomendações da American Society of Interventional Pain Physicians, elas são de moderadas a boas para 62% dos diagnósticos e 52% das intervenções terapêuticas avaliadas4 . O fato de a qualidade da evidência ser baixa não significa que o efeito do tratamento seja mínimo, indica a necessidade de pesquisa clínica. No entanto, a realização de ensaios clínicos randomizados para dor, principalmente para técnicas intervencionistas, é dificultada por vários fatores como: dificuldade em cegar o paciente e o intervencionista, recusa do paciente em participar de um estudo com risco de receber um tratamento ineficaz e preocupações éticas quanto a retardar o potencial tratamento efetivo de pacientes que sofrem de dor intolerável crônica. Desta maneira resultam poucos estudos e, quando são disponíveis, eles são rebaixados devido aos riscos de viés como cegamento e baixo número de participantes5.
Nos últimos anos a medicina regenerativa vem apresentando resultados promissores e em franca evolução no manejo destas afeções. Os mecanismos passam por reparação tecidual, restabelecendo tecidos e controle da dor, eliminando estímulos nociceptivos, locais revertendo mecanismos de sensibilização central e neuroproteção por efeitos parácrinos6. Devemos encarar os procedimentos intervencionistas como mais uma arma no tratamento multidisciplinar da dor musculoesquelética, permitindo a reabilitação física e mental destes pacientes. É importante salientar que usar estratégias que permitam a manutenção da saúde musculoesquelética são essenciais7. Combater obesidade e inatividade física , manter exercícios regulares , controle de dieta, uso de nutracêuticos, higiene do sono e gerenciamento dos fatores emocionais, são fundamentais para o sucesso do tratamento.
Fontes:
1 - Musculoskeletal Pain Fact Sheets - International Association for the Study of Pain. [internet] Available
from: asp pain.org/Advocacy/Content.aspx?ItemNumber=1101
2. Rezus E.,Cardoneanu A, Burlui A. The Link Between Inflammaging and Degenerative Joint Diseases. Int. J. Mol. Sci. 2019, 20, 614; doi:10.3390/ijms20030614
3. Chhetria J. K., Barretoa, P. S.,Fougère B. Chronic inflammation and sarcopenia: A regenerative cell therapy
perspective. Experimental Gerontology 103 (2018) 115–123
4. Manchikanti L., Abdi S., Atluri S. At al. An Update of Comprehensive Evidence-Based Guidelines for Interventional Techniques in Chronic Spinal Pain. Part II: Guidance and Recommendations. Pain Physician 2013; 16:S49-S283.
5. Huygen F., Kallewaard J. W. , Tulder M. “Evidence-Based Interventional Pain Medicine According to Clinical Diagnoses”: Update 2018. Pain Practice, Volume 19, Issue 6, 2019 664–675
6.Labusca L., Zugun-Eloae F., Mashayekhi K. Stem cells for the treatment of musculoskeletal pain. World J Stem Cells 2015 January 26; 7(1): 96-105
7. Lewis R., Álvarez1C. B. G., Rayman M. Strategies for optimising musculoskeletal health in the 21st century. BMC Musculoskeletal Disorders (2019) 20:164